A NOVA ECONOMIA: MITO OU REALIDADE?


Discute-se, mesmo, sua existência. Na verdade, "nova economia" é o termo técnico hoje utilizado pelos analistas do mercado financeiro para empresas geradas no âmbito da Internet e de biotecnologia, dentre outras, mas isso não significa seja realmente “nova”. Vamos por isso analisá-la buscando esclarecer o movimento recente dos mercados e suas origens nos EUA.
Inicialmente, o que acontece hoje na economia norte-americana dificilmente ocorrerá no resto do mundo. O redirecionamento de sua economia começou no início dos anos 80, quando o crescimento acelerado do Japão nos fez pensar em declínio dos EUA. Os japoneses compravam indústrias e imóveis, enquanto os norte-americanos incentivavam a indústria de hardware, de software, em seguida de biotecnologia, paralelamente à Internet, inclusive com incentivos fiscais generosos.
Hoje, interessa muito mais aos EUA levar mídia, programação de TV aos lares do mundo inteiro por US$20.00/mês que produzir os aparelhos. A base da economia americana mudou, ninguém percebeu e sua mídia, ciente disso, procura dissimular esse fato, através de teorias neoliberais e da existência de uma "nova economia". Na verdade, a remuneração pela propriedade industrial e intelectual têm sido a grande fonte de recursos das suas empresas transnacionais, e obviamente do país como um todo.
Formada a base da economia da informação, houve ano passado uma explosão no valor de mercado das empresas dotcom no mundo inteiro. Atualmente nos mercados acionários sucessivos "ajustes" têm sido feitos no valor das empresas da "nova economia". Percebeu-se que a euforia anterior se baseava em fluxos de caixa fictícios e perspectivas de lucros irreais, razão da queima de ativos ultimamente. Isso não quer dizer que deixaram de ser um bom negócio. O mercado apenas tem tratado-as nos moldes conhecidos, em que a remuneração do capital é o principal objetivo, em que ativos reais têm valor, mas sempre considerando o enorme potencial de crescimento de uma nova forma de fazer negócios. Espera-se para os próximos meses que a redução de valor das empresas dotcom continuará. Se não puderem financiar seus prejuízos no mercado, terão de encontrar  outra maneira de levantar dinheiro, provavelmente recorrendo a grandes empresas tradicionais.
Isso, contudo, não trará grande impacto sobre a economia mundial, porque empresas exclusivamente digitais não são grandes, não têm muitos trabalhadores, e investiram basicamente na construção de suas marcas, de modo que não há excedente de ativos de capital suficiente para deprimir o mercado.
Isso não significa pessimismo em relação à evolução da “nova” e da "velha” economia. A Internet criou uma nova forma de distribuição e logística para a economia real, com imensos ganhos de produtividade, impulsionadores da atividade econômica global. A rede criará novos postos de emprego qualificados, aumentando a renda e o crescimento econômico, todavia, devemos lembrar, a concentração de renda no Brasil e suas deficiências educacionais impedirão a partir de 2003 o crescimento da base instalada de computadores, impedindo o aproveitamento máximo desse momento propício, onde a produção intelectual agrega valor.
De fato há no presente uma grande oportunidade para toda economia mundial. Empresas tradicionais terão que ingressar na rede se quiserem continuar competindo. Empresas ainda poderão sair do zero e fazer frente à gigantes do seu setor; os países em desenvolvimento poderão capitalizar o atual estágio da tecnologia e novas oportunidades de emprego surgirão, desde que os empreendimentos sejam geridos realista e adequadamente e, no caso do Brasil, tenhamos visão estratégica e de longo prazo, bens escassos por essas paragens.
 
MARCO AURÉLIO DE CASTRO JÚNIOR, Procurador do Estado e Advogado, Prof. de Direito Comercial, especialista em direito de informática e telecomunicações. GILENO BARRETTO, Economista, especializado em elaboração de business plans de negócios digitais, foi Supervisor do Tax Department da PriceWaterhouseCoopers em Salvador e em São Paulo.